Monday, July 30, 2012

Vitamina

No restaurante indiano que eu trabalhei o dono tinha varios amigos. Quer dizer, o dinheiro dele tinha. Don’t get me wrong, ele era um super nice guy, mas ô íman de gente interesseira! Toda quarta-feira ele fazia um wine tasting. Só que era muito engraçado perceber que nas quartas que ele avisava que não ia, não aparecia ninguém. Nos outros dias tinha de tudo, namorada, ex-namorada, amigos, donos de distribuidora de vinhos e até mesmo de vinículas, que iam mesmo era pela free food. E vou te contar que ninguém entendia nada de nada. Mesmo os que trabalhavam com vinho. Nem eu, nem o gerente aguentávamos o bando de folgados que ía toda semana, enchiam os pacovás e tinham a pachorra de deixar 1 ou 2 doleta, quando deixavam. O processo era o seguinte: cada um levava uma garrafa de vinho (poucos, pouquíssimos, levavam vinhos caros), nos entragava e nós colocávamos em uma brown bag. Alguns vinhos requeriam decantação, então nós despejávamos em uma outra garrafa de vinho. O que nós fazíamos era colocar restos dos mais diversos vinhos que tivéssemos aberto em uma dessas garrafas e juntávamos às outras. Nós a chamávamos carinhosamente de ‘vitamina’. As bags e garrafas eram numeradas e começava a degustação. Cada um experimentava (a idéia era degustar e cuspir, mas 9 entre 10 engoliam mesmo e saiam de lá breacos) e anotava num papel o que achou de cada vinho, dando nota. No final eles juntavam os pontos e elegiam o vencedor. Por diversas semanas a vitamina ganhou o primeiríssimo lugar.

Wednesday, July 25, 2012

Good enough

Em todo lugar em que trabalhei, sempre tinha um cliente que achava que eu era do respectivo. Tá, menos no sports bar americano, que o sotaque entrega muito. E também no chinês que meu cabelo é lisão, mas meu olho até que bem redondinho. No mexicano, que foi meu primeiro emprego aqui, fui obrigada a aprender o espanhol. O amigo nem perguntava, já chegava dizendo “Hola!”. No italiano perguntavam de que parte da Itália eu era. Meio sem gracinha eu dizia que era do Brasil, mas minha nona de Veneza. (Não é mentira não. Mas eu nunca cheguei a conhecer a minha avó, muito menos chamá-la de Nona). E, acreditem, no indiano me perguntavam se eu era da Índia. Claro, não os clientes indianos. Daí eu dizia que era mesmo, só pra agitar. Esses dias no peruano me perguntaram se eu era peruana. Eu, bem simpatiquinha disse que era do Brasil. “Good enough”, foi a resposta. Agora me digam, good enough por que?? Além de ambos os paises serem no mesmo continente, quase nada mais bate. Nem língua, nem looks e apenas uma pontinha faz divisa. Good enough por que?? Porque eu sendo “praticamente” peruana, o senhor se sente confortável em comer a comida daqui? Já refleti mil vezes e até agora não entendi o maldito good enough.

Sunday, July 22, 2012

Mais alguma coisa?

Trabalhei numa pizzaria que devia tem um magneto pra gente tonta. Cada pergunta que se fazia! So quem trabalhou lá pra saber. Você passava a pizza e informava os sabores. Por exemplo: "Temos de alho e palmito". Aí, sem conseguir identificar a diferença visualmente, o cliente apontava para uma das metades e perguntava: "Qual é essa?". Você respondia: "Palmito". Como se a dúvida não cessasse, apontava para a outra metade: "E essa?". Aff! Ou perguntavam: "O que mais leva a pizza de calabresa?" Você prontamente: "Queijo, cebola e linguiça calabresa. "Mais alguma coisa?" (...Se tivesse mais alguma coisa eu acho que játeria dito, meu amigo...)

Thursday, July 19, 2012

Pediu, vai comer

Eu ouço a menina comentar com a amiga: “Sério mesmo que eles só nos deram 3 pedacinhos de pão?” Eu, com toda simpatia explico: “Há muita gente que nem come, então vai fora. Para evitar desperdício nós damos esse tanto. Mas vocês podem repetir sem problema nenhum. Querem mais pão?” Elas respondem que sim e eu levo. No final, limpando a mesa, vejo os 3 pedacinhos da segunda leva ali, intactos. Da ou não da vontade de enfiar goela abaixo?

Friday, July 13, 2012

Prezado server wannabe

Se você está procurando emprego e resolve experimentar a comida e o atendimento, a Tia Rô te dá uma dica: trate bem o seu garçom e dê uma boa - ou pelo menos razoável - gorjeta. Sim, nós iremos comentar o tamanho da sua generosidade com os nossos superiores. Agradecida.

Tuesday, July 10, 2012

O plano secreto das hostesses

Nove anos trabalhando em restaurante e uma coisa eu posso dizer com toda certeza: cliente não confia em hostess. Eles acham que elas tem um plano diabólico pra não deixar ninguém sentar nas mesas boas. Tipo, que as meninas as guardam pra caso a rainha da Inglaterra chegue ao restaurante de surpresa. O restaurante razoavelmente vazio, arrasando, oferece a melhor mesa. Os clientes se olham, apontam praquela mesinha chinfrim perto da porta do banheiro: “podemos sentar aqui?” Aí você não quer se irritar. O cliente chega e você diz: “Podem sentar-se em qualquer lugar.” Eles se olham, analisam, refletem, trocam ideias, olham pra todas as mesas, se olham novamente. É a escolha de Sofia. Se tiver uma mesa suja, uma única mesa suja, dou meu dedo mindinho que eles vão pedir pra sentar ali. Sem contar o cliente sem noção que chega num restaurante bombando, sabado a noite, e quer sentar com a namorada naquela mesa pra quatro e faz cara feia, quando você, com toda educação que lhe é peculiar, explica que “essa é uma mesa que cabem até quatro pessoas, e numa noite movimentada como essas, seria preferível que eles se sentassem numa mesa pra dois”. E não se enganem. Tem também o cliente que chega com outras 10 pessoas, desacreditam que não tem mesa disponível no momento e juram por tudo que vão caber naquela mesa para quatro pessoas bem no meio do restaurante.

Thursday, July 5, 2012

May I see your I.D.?

O rapaz entra com o pai e a irmã no restaurante, cada um pede uma sangria. Eu peço a carteira de identidade do rapaz e da moça. Ela mostra. Ele faz cara feia e murmura alguma coisa que entendi ser algo do tipo “esqueci no carro e não quero ir até lá buscar”. Eu meio que desacreditei, afinal, se eu quero beber, eu tiro uma carteira vocês bem sabem de onde. Mas como não entendi muito bem, pergunto o que ele falou. “Está no meu bolso e eu não quero tirar”. Eu: “No seu bolso?!” Ele: “É, no meu bolso”. “E o senhor não quer tirar a carteira do seu bolso?!” (Foi difícil acreditar, minha gente!). “É, não quero”. “Então infelizmente não posso lhe vender a sangria”. “Bom, é a sua venda”. “Não, meu senhor, é o cumprimento da lei da Califónia. Só estou seguindo as regras. Uma sangria não fará diferença no meu bolso, muito menos no do restaurante, mas com certeza faria no seu humor”. Há!

Tuesday, July 3, 2012

Chocolate dipped fortune cookie

Eu DESTESTO treinar. Mas sou bem boa nisso. Ensino bem diretinho que é pra não ter que ensinar de novo. Ensino não só o que se deve, mas principalmente o que não se deve fazer. No chinês que eu trabalhaei era uma de entrar e sair server. E eu sempre treinando. Um belo dia estou treinando esse rapaz, daqueles tipo modelo, que veio pra L.A. pra make it in the business. Ele me seguiu o dia inteiro, eu falando, ele escutando. Eu explicando, ele absorvendo. Eu falando um pouco mais, ele prestando bem atenção. No final do dia, eu mega atenciosa, pergunto: “alguma duvida?”. Ele mais do que depressa, no melhor estilinho “estava mesmo esperando esse momento”, atira: “a gente pode comer os chocolate fortune cookies?”. É, meu povo. Por essas e outras que eu detesto treinar.